Miudezas

Percorro todas as tardes um quarteirão de paredes nuas.
Nuas e sujas de idade e ventos.
Vejo muitos rascunhos de pernas de grilos pregados nas pedras.
As pedras, entrentanto, são mais favoráveias a pernas de moscas do que de grilos.
Pequenos caracóis deixaram suas casas pregadas nestas pedras.
E as suas lesmas saíram por aí à procura de outras paredes.
Asas misgalhadinhas de borboletas tingem de azul estas pedras.
Uma espécie de gosto por tais miudezas me paralisa.
Caminho todas as tardes por este quarteirões desertos, é certo.
Mas nunca tenho certeza
Se estou percorrendo o quarteirão deserto
Ou algum deserto em mim.

Manoel de Barros

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